Que coisa, né, Jung.
Será sinal de que as pessoas andam fazendo mais mal do que bem umas às outras?
Ou talvez apenas o dilema do porco-espinho?
Uns quantos porcos-espinho se amontoaram buscando calor em um dia frio de inverno; mas, quando começaram a se machucar com seus espinhos, foram obrigados a se afastar. No entanto, o frio fazia com que voltassem a se ajuntar, para logo se afastar novamente. Depois de várias tentativas, perceberam que poderiam manter certa distância uns dos outros sem se dispersarem.
Do mesmo modo, as necessidades sociais, a solidão e a monotonia impulsionam os “homens porcos-espinho” a se reunirem, apenas para logo se repelirem devido às inúmeras características espinhosas e desagradáveis de suas naturezas. A distância moderada que as pessoas finalmente descobrem é a condição necessária para que a convivência seja tolerada; é o código de cortesia e boas maneiras. Aqueles que transgridem esse código são duramente advertidos, como se diz na Inglaterra: keep your distance! Com esse arranjo, a necessidade mútua de calor é apenas parcialmente satisfeita, mas pelo menos não se machucam.
Quem possui algum calor em si mesmo prefere permanecer afastado,
assim não precisa ferir outras pessoas e também não é ferido.
De Arthur Schopenhauer (1788-1860), em tradução de Alfredo Carneiro, com pequenos toques nossos. Para ir à fonte, clicar aqui.