Parte de um post em Beni Yahweh, editada e um pouco modificada.
Tradução – pesquisa & adaptação: Ligia Cabús
Os Tzadikim Nistarim ou Lamed Vav Tzadikim (ל”ו צדיקים) são os 36 Justos, ou Pessoas Santificadas, segundo uma lenda judaica. Na gematria*, Lamed (ל) é a letra que representa o número 30 e Vav (ו), representa o número 6. Além disso, 36 significa “vida dupla”, por ser duas vezes o número 18, que é o valor numérico da palavra “vida” (חי). Tzadikim é o plural de “Justo” [“Justos”, portanto]. Desse modo, as “Pessoas Santificadas” são chamadas de “Os trinta e seis”. Também são denominadas Tzadikim Nistarim: “Justos Ocultos”, ou “Santos Ocultos”.
* Gematria, gemátria, guemátria ou guimátria é o método de análise das palavras bíblicas em hebraico pela atribuição de um valor numérico a cada letra. É conhecido como “numerologia judaica” e se aplica à exegese da Torá (Pentateuco). A cada letra do alfabeto hebraico atribui-se um valor numérico e, assim, uma palavra terá um valor que é o somatório das letras que a compõem. De acordo com seus valores, há letras comutáveis por outras. As escrituras podem, então, ser examinadas à luz do valor das palavras, e em sua relação com outras.
Segundo a tradição do místico Judaísmo Hassídico ou “Chassídico”, bem como em outros segmentos, existem 36 seres humanos justos cujo papel na vida é justificar a existência da raça humana aos olhos de Deus. A identidade dessas pessoas é desconhecida. Quando uma delas realiza completamente sua missão neste mundo, morre, e seu lugar é imediatamente assumido por outra pessoa.
O escolhido é, necessariamente, alguém que deve possuir o caráter necessário à condição de Tzaddik. Porém, se Deus não encontrar sobre a Terra alguém bom, puro, humilde o suficiente para assumir o lugar do Tzaddik morto, então, o mundo pode acabar no mesmo instante.
Os Lamed-Vav Tzaddikim, são chamados Nistarim, “os ocultos” ou “os desconhecidos”. Em alguns relatos tradicionais, a condição de Nistarim, ou de agir anonimamente, é uma escolha, uma auto-imposição do Justo, que usa seus poderes místicos para prevenir desastres e/ou proteger pessoas ameaçadas ou perseguidas. No cotidiano, vivem discretamente, em posições de pouco destaque na comunidade. Em raras ocasiões, um deles é descoberto por acidente. O segredo não deve ser revelado.
Em outras versões, os lamed-vavniks desconhecem sua condição, e se uma pessoa alega ser um dos 36, essa pessoa certamente está mentindo, porque a principal virtude de um Nistarim é anavah [humildade], uma humildade tão sincera que o Nistarim nem chegaria a suspeitar de que é um dos 36 Justos. Eles não se conhecem e são pessoas comuns. Sem saber, os Lamed Wufniks são os pilares secretos do universo. Se não fosse por eles, Deus aniquilaria toda a humanidade. Sem tomar conhecimento, evitam que o mal aconteça às pessoas à sua volta. Nunca se destacam na multidão, nem perdem seu anonimato. Sem perceber, são nossos salvadores. Eles são os bodes expiatórios da humanidade. Na eventualidade de um Lamed Wufnik perceber sua importância, sua morte é certa: nenhum homem pode suportar nem 1/36 do peso do mundo.
Quando um deles sobe aos céus, seu estado é de congelamento total, e Deus precisa esquentá-lo por mil anos antes que sua alma possa se abrir ao Paraíso. É dito que alguns continuam tão inconsoláveis em relação à humanidade, que nem Deus consegue esquentá-los. Então, de tempos em tempos, o Criador adianta o relógio do Último Julgamento em um minuto.
No século VII, judeus da Andaluzia (região no sul da Espanha) veneraram uma rocha com forma de lágrima. Eles acreditavam que a rocha era a alma de um Lamed Wufnik desconhecido, petrificada pelo sofrimento.
Esses 36 Justos, vivendo sobre a Terra, são uma espécie de garantia de salvação do mundo perante o julgamento de Deus. É por causa deles que o Criador permite a existência da Humanidade que degenera em barbárie de costumes. Essa situação remete ao episódio bíblico de Sodoma e Gomorra, quando Deus promete a Abraão que preservará a cidade de Sodoma se ali encontrar ao menos 10 homens justos.
O mito dos Lemedvaviniks encerra a possibilidade de que cada pessoa neste mundo pode ser um dos 36 Justos e pode agir como um deles, praticando a misericórdia e a oração pela salvação, pelo bem de toda a Humanidade. A tradição diz, ainda, que um desses 36 Justos pode ser o Messias Judeu, se o mundo estiver pronto para a revelação de sua identidade. Esses Justos vivem e morrem como pessoas comuns.
A crença nos 36 Justos preenche, em boa medida, o culto aos santos e a outras personalidades, no judaísmo. O homem não precisa de intercessores celestiais, posto que o mundo recebe a Misericórdia através das ações dos Justos anônimos, desconhecidos, nunca revelados. Qualquer um pode ser um deles: o articulista deste texto, o leitor, ou mesmo alguém a quem todos consideram completamente desprovido(a) de qualquer mérito.
Sinceramente tenho medo do numero 6 e esse ano vou completar 36 anos o que será que sigifica isso ?
Não sei o significado não. Só posso torcer para que seja algo bom. Boa sorte. ¯\_(ツ)_/¯
E então se um deles morre sem completar a missão ele reencarna?
A lenda é de origem judaica. Não sei se no judaísmo se considera possibilidade de reencarnação, mas me parece que não. Por outro lado, o que entendo do texto é que não tem como esses justos não cumprirem sua missão. Segundo o texto, a humanidade continua existindo porque eles existem: com sua compaixão e justiça, “sustentam o mundo”. Então, enquanto existem, como justos que são, estão cumprindo sua missão, ainda que não saibam disso. Não cumprem a missão por intenção, mas a cumprem porque são (justos). Quando um morre, é substituído. A lenda me faz lembrar do episódio bíblico de Sodoma e Gomorra, nesse aspecto, em que o anjo diz que se houver 10 justos lá, as cidades não serão destruídas pela ira divina apenas por causa da existência deles. Estou falando do que entendo do texto, tá? Não é da minha autoria, apenas postei aqui no blog (porque achei a lenda bonita).
Segundo informa Gershom Scholem, o historiador, em caso de desaparecimento de um dos Justos, outro ser humano em qualquer ponto da terra, assume a condição, geralmente de forma anônima. Nem sempre o “justo” sabe que é um deles, pois poderia não suportar a missão ou simplesmente se deixar derrotar pelo orgulho e vaidade.
E qual é esses seus poderes místicos
Bem vindo, Isaac. O texto que reproduzi aqui no blog não diz quais são esses poderes, né? Pelo que conheço de lendas hassídicas, parece que são principalmente contato com um mundo divino. Houve alguns rabis considerados justos, o principal de que ouvi falar foi Baal Shem Tov. Se você procurar histórias dele na web, acho vai ter uma boa ideia do que podem ser esses poderes. Algumas das lendas sobre uma pessoa considerada “justa” (tzadik) destacam como sua sabedoria e devoção orienta a outros, outras contam episódios de vidência, profecia, contato direto com algum mundo espiritual. São relatos que fazem lembrar alguns dos poderes atribuídos a Jesus em passagens dos Evangelhos, embora em geral menos ostensivamente “sobrenaturais” do que andar sobre o mar, ressuscitar mortos, transformar água em vinho, multiplicar peixes e pães… Uma lenda que ouvi uma vez era sobre um rapaz que foi escalado para ir lutar na guerra. Os pais, desesperados, pediram ajuda e conselho ao rabi do lugar, que disse somente isso: ele deve lavar as mãos antes das refeições. Os pais ficaram revoltados. Mas o rapaz seguiu à risca, quando estava como soldado na guerra. Um dia não havia água e ele se afastou do grupo antes de comer para procurar um riacho onde lavar as mãos. Quando voltou, o grupo havia sido bombardeado e todos estavam mortos. Ele voltou vivo da guerra. Então, você vê, nem sempre esses poderes contados nas lendas dos rabis justos são milagres ostensivos, com o tipo de subversão da ordem natural que há em alguns milagres atribuídos a Jesus nos Evangelhos, mas são poderes de ajudar e proteger a comunidade ou a humanidade, intervir no rumo de acontecimentos com suas orações ou boas ações. Mas às vezes também há alguma subversão da ordem natural nessas lendas de rabis justos que conheço, como uma luz que aparece, uma voz que se ouve do além, uma cura. Por exemplo, uma lenda do Baal Shem Tov que encontrei agora conta que ele teria conseguido que um casal estéril tivesse um filho. E daí, no meio disso, conta-se como o céu se curvou ao pedido dele, como ele soube o que havia acontecido no céu e tal. É a esse tipo de contato com o divino que me referi no início. http://www.chabad.org.br/biblioteca/historias/hist228.html Tem uma história de que gostei muito e reproduzi aqui no blog que também pode dar uma ideia: https://anidabar.wordpress.com/2012/03/11/a-floresta-e-a-rosa/